Anarquia e História
Nossa visão cliché do típico anarquista tende a vê-lo surgir logo antes da Primeira Guerra Mundial, o que é muito interessante quando você pensa sobre isso. O estereótipo do anarquista é retratado como um fracassado febril, que usa a sua ideologia política como uma justificativa para acobertar seu desejo por violência. Ele argumenta que deseja ver o mundo livre da tirania, quando na verdade, tudo o que ele quer é quebrar ossos e assassinar.
Nós tipicamente visualizamos este anarquista como uma forma de terrorista, o qual geralmente é definido como alguém que usa de meios violentos para atingir fins políticos, e colocado ao mesmo tempo na mesma categoria dos que tentam dar um golpe de estado contra o governo existente.
No entanto, quando você examina o utilizando da lógica, parece quase impossível prover uma definição de terrorismo que também não inclua líderes políticos, ou pelo menos, o processo político em si.
O ato de guerra é em sua essência uma tentativa de alcançar fins políticos através do uso de violência – a anexação da propriedade, a captura de uma nova área de impostos ou a deposição de um governo estrangeiro – isso sempre requer um governo que deseja e é capaz de aumentar o uso da violência contra os seus próprios cidadãos, através de aumentos de impostos e/ou de alistamento militar. Mesmo defendo um país contra uma invasão requer inevitavelmente um agravamento do uso da força contra os cidadãos.
Assim, como podemos dividir facilmente aqueles que estão fora do processo político que usam de violência para atingir seus objetivos daqueles que estão dentro do processo político que utilizam de violência para atingir seus fins? Continua a ser pelo menos uma tarefa difícil.
O que é fascinante sobre a mitologia do “anarquista malvado” é que mesmo se nós aceitamos o estereótipo, a disparidade no número de baixas entre os anarquistas e seus inimigos permanece incrivelmente deturpada, para dizer o mínimo.
Anarquistas no período anterior à Primeira Guerra Mundial mataram talvez dúzias ou um número grande de pessoas, quase todas chefes de estado ou seus representantes.
Por outro lado, chefes de estado ou seus representantes causaram a morte de mais de 10 milhões de pessoas durante a Primeira Guerra Mundial.
Se você valoriza a vida humana – como qualquer pessoa racional e moral deve fazer – então temer anarquistas em vez de líderes políticos é como temer combustão espontânea em vez de doenças cardíacas. Na categoria de “causadores de mortes”, um único líder governamental ultrapassa todos os anarquistas dezenas de milhares de vezes.
Essa perspectiva parece algo surpreendente para você? Bem, isso é o que acontece quando você analisa os fatos em vez das histórias dos vencedores.
Outro exemplo seria um exame objetivo da violência e dos assassinatos nos Estados Unidos durante o século XIX. A típica história sobre o “velho oeste” é que era uma terra habitada por ladrões, assassinos e bandoleiros, onde somente uma pequena força dos solitários xerifes locais permanecia entre os colonos indefesos e a predação sem fim de vilões morenos e barbados.
Se, porém, nós analisarmos os fatos sobre a taxa decrescente de assassinatos no sec. XIX nos EUA, veremos que 600 mil homicídios foram cometidos em um intervalo de poucos anos pela Guerra de Secessão promovida pelo governo. Nós podemos ver que xerifes não eram particularmente dedicados a proteger colonos indefesos, mas sim em entregar o dinheiro destes, suas vidas e suas crianças para o governo através da coerção brutal da taxação e escravidão militar.
Quando nós olhamos para uma instituição como a escravidão, podemos ver que esta sobreviveu, fundamentalmente, em dois pilares centrais – lendas amedrontados, paternalistas e a mudança dos custos de coação para outros.
Que justificações foram apresentadas, por exemplo, para a escravidão dos negros. Bem, a “obrigação do homem branco” ou a necessidade de “cristianizar” e civilizar esses selvagens pagãos – essa foi a condescendia – e também porque se os escravos acabassem livres, fazendas seriam queimadas, mulheres brancas seriam selvagemente violentadas e todos os tormentos intermináveis e destruição castigariam a sociedade – essa era uma lenda amendrontadora!
Mesmo fora da guerra, somente no século XX, mais de 270 milhões de pessoas foram assassinadas pelos seus governos. Comparadas às dúzias de homicídios cometidos por anarquistas, é difícil visualizar como a fantasia do “anarquista malvado” pode se sustentar quando comparamos a pequena pilha de corpos de pessoas mortas por anarquistas com a montanha imaginária de pessoas mortas por governos em somente um século.
Claro que se nós estivermos preocupados com violência, homicídio, roubo e estupro, nós devemos nos focar nos que cometeram esses males em maior quantidade – os líderes políticos – em vez daqueles que se opõe a eles, mesmo que se oponham equivocadamente. Se nós aceitarmos que líderes políticos assassinam a humanidade às dezenas de milhões, então, talvez, sejamos tentados a ter alguma simpatia por esses “anarquistas malvados”, assim como nós teríamos por um homem que matou um franco- atirador em ação.