Ambivalência e Intolerância
É um truísmo – e um que penso que seja válido – que a mente simples vê tudo preto ou branco. Sabedoria, por outro lado, envolve sempre desejando sofrer as dúvidas e as complexidades da ambivalência.
O pessimista intolerante diz que todos os negros são pérfidos; o intolerante leviano diz que todos os negros são vítimas. O misógino diz que todas as mulheres são corruptas; a feminista regularmente diz que todas as mulheres são santas. Explorando as complexidades e as contradições da vida com a imparcialidade da mente aberta – nem com a imposição de julgamentos prematuros, muito menos com a retenção de julgamento uma vez que é evidência – é a marca do cientista, do filósofo – de uma mente racional.
Os fundamentalistas entre nós delegam todos os mistérios para a “vontade divina” – o que acaba por responder nada depois de verificarmos que a “vontade divina” não deixa de ser outro mistério, é como dizer que a localização das minhas chaves é “o local onde minhas chaves não estão perdidas” – isso ajuda em nada a equação a não ser como uma teeth- gritting tautologia. Mistério é igual a mistério. Alguém como mais de meio cérebro pode fazer um pouco mais do que revirar os olhos.
A imaturidade de conclusões prematuras e inúteis é acompanhada por outro lado apenas pelos nevoeiros superficiais e assustados do moderno – ou talvez eu devesse dizer pós- moderno – relativismo onde não há conclusões válidas, onde nenhuma declaração absoluta é justa – exceto uma, claro – a de que tudo é exploração, tipicamente com os olhos vendados, e sem direção. Não há destino, nenhum poste de sinalização, não há sentido de progresso, nenhuma construção a um objetivo maior – é a dissecação de cadáveres culturais sem fim, mesmo sem uma definição de saúde ou finalidade, que assim se aproxima perigosamente de parecer com sadismo fetichista.
A verdade é que alguns homens negros são bons, outros são ruins e a maioria é uma mistura dos dois, assim como todos nós somos. Algumas mulheres são traiçoeiras, algumas são santas. Gênero ou cor de pele são padrões completamente inúteis para analisar uma pessoa moralmente; é quase tão útil quanto tentar achar a direção norte com um iPod. O termo “penetração sexual” não nos diz se o ato foi consensual ou não – dizer que a penetração sexual é sempre ruim é tão inútil quanto dizer que é sempre boa.
Da mesma maneira, algum anarquismo é bom (particularmente aquele que nós protegemos tanto em nossas vidas pessoais) e algum anarquismo é ruim (especialmente nossos temores de violência, atentados a bomba e grandes bigodes). Como uma palavra, no entanto, “anarquismo” não nos ajuda a estimar essas situações. Aplicar o pensamento tolo do preto-e-branco à situações complexas e ambíguas é mais um tipo de intolerância.
Dizer que “anarquismo é ao mesmo tempo um malefício político e o maior tesouro de nossas vidas pessoais é uma contradição que vale a pena ser examinada, isso se nós desejamos ganhar um certo grau de sabedoria sobre questões essenciais sobre a verdade, virtude e desafios sociais da organização social.